Mariángeles Soto-Díaz idealiza escola imaginária Instituto Experimental Tropical del Amazonas, fundada por feministas com base em culturas indígenas
Luana Fortes
Diante da instalação Instituto Experimental Tropical del Amazonas (2018), questiona-se sobre a existência de uma escola de artes na Floresta Amazônica entre os anos 1935 e 1942. Ela de fato existiu? Só na cabeça de sua idealizadora, Mariángeles Soto-Díaz. A artista venezuelana exibiu um arquivo detalhado sobre a escola imaginária no Centro de Artes 18th Street, em Santa Monica, California. A exposição aconteceu de fevereiro a maio de 2018.
Com base em conhecimentos e habilidades de etnias indígenas como Ye’kuana e Yanomami, que vivem na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, o Instituto Experimental Tropical del Amazonas foi criado por um grupo de artistas feministas. Seu foco era reimaginar modos de viver e fazer arte em consonância com a natureza, dentro dela e até em contraste com ela. Enquanto funcionou, teve visitas de Oswald de Andrade e palestras de Le Corbusier e Sonia Delaunay.
Além de colagens, desenhos, mapas e materiais tropicais como urucum, coco e papeis de fibra feitos à mão, a obra de Soto-Díaz traz um manifesto em que afirma: “Nós esperamos que o espírito desta escola dure mais do que nós (…). Reconhecemos que por definição não existem utopias corporificadas, mas apenas a intenção de viver pela promessa de nos atirar em direção aos poderes metafísicos em circulação que só conseguimos imaginar”.
Em 1942, a escola teve um fim – mesmo que imaginário – partindo da ideia de uma instituição efêmera. Já que seu abrigo era a floresta, seguiu o mesmo caminho de um galho caído que se decompõe sobre o chão molhado. Ao acabar, o Instituto Experimental Tropical del Amazonas remanesce como ruína de um futuro perdido. A ruína de algo que nunca teve corpo, mas existiu.