O artista formador: Sandra Cinto e Albano Afonso Workshop de Sandra Cinto (Foto: Ding Musa)

O artista formador: Sandra Cinto e Albano Afonso

Em série de depoimentos, grandes nomes da cena brasileira contam como transmitem seu amor e apreço pela arte às novas gerações

Por Luciana Pareja Norbiato, Felipe Stoffa, Sandra Cinto e Albano Afonso

 

Ensinar é um processo múltiplo. Nenhum método de ensino dá conta sozinho de fixar as bases de atuação de seus agentes. Mesmo nas ciências exatas, a maneira como o professor lida com sua disciplina influencia diretamente os resultados e o interesse dos alunos. No ensino de artes visuais, essa fluidez epistemológica é potencializada. O ato do ensino e da aprendizagem pode começar em instituições formais, como escolas e faculdades, e ultrapassar a sala de aula para acontecer em conversas, projetos e até na rua. A produção de certos artistas não seria a mesma sem o ato generoso de compartilhar conhecimento e experiência com as novas gerações. Saiba o que Sandra Cinto e Albano Afonso, artistas e organizadores do Ateliê Fidalga (SP), pensam sobre a dimensão formativa da arte:

“A educação se dá em qualquer espaço de convívio social”
Há algum tempo estamos tentando mudar a ideia do Ateliê Fidalga, enquanto um lugar parecido com uma escola ou local onde se oferece algum tipo de curso ou orientação. Faz tempo que não temos mais “alunos”. Refletimos muito sobre as práticas de educação em arte e o nosso trabalho foi ganhando outra dimensão. Partindo da ideia de que a educação se dá em qualquer espaço de convívio social, Albano e eu percebemos que o nosso trabalho no Ateliê Fidalga acontece muito mais como mediadores das discussões e propositores dos encontros entre os artistas, para que sejam feitas trocas.

O conhecimento é compartilhado de uma maneira horizontal, entre todos. Todas as áreas do conhecimento são bem-vindas e todos os artistas têm algo para dividir, aprender e trocar com o outro em termos de experiências. Também estamos bastante focados no Projeto Fidalga, um desdobramento do Ateliê Fidalga, localizado no nosso antigo ateliê. Nesse local funcionam cinco ateliês de artistas, um ateliê que é uma bolsa de incentivo para artistas sem espaço próprio (Bolsa Estúdio Fidalga), um programa sem fins lucrativos de residência (Residência Paulo Reis) e uma sala para exposições experimentais realizadas pelos artistas e curadores residentes, e artistas jovens ou em meio de trajetória que tenham um projeto para desenvolver e necessitam de espaço (Sala Projeto Fidalga). Nesse caso, a educação como ação transformadora e geradora de conhecimento acontece pela prática e pelas trocas no local: conversas organizadas durante a exposição, intercâmbios com universidades (Musashino e Aomori Art Center, no Japão, e Instituto de Geociências da USP, entre outros) e incentivo a publicações para multiplicar o conhecimento (desde o ano passado, as nossas publicações, além de impressas, são também virtuais, para que as pessoas possam baixá-las e terem acesso à pesquisa) e nos desdobramentos dessa experiência, a ressonância. Um exemplo é Renata Cruz, artista do grupo de estudos que está neste momento no Japão. Ela participa do nosso programa de intercâmbio com o Aomori Art Centre. A ideia de compartilhar o conhecimento vai se expandindo como uma hera.

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