Vida que continua

Vida que continua

Contemplado no Rumos Itaú Cultural 2017-2018, Área Criativa – Pinhões, de Bruno Vilela, é a nova fase do projeto vencedor do 1º Prêmio seLecT de Arte e Educação, em 2017

Paula Alzugaray

Área Criativa – Pinhões é um dos 109 projetos contemplados no programa Rumos Itaú Cultural (2017-2018). A proposta de Bruno Vilela é criar uma pesquisa sobre processos construtivos de baixo custo e construir um espaço cultural autogerido pelo grupo de jovens da comunidade quilombola de Pinhões, em Santa Luzia (MG). Os participantes, junto com a equipe do projeto, vão desenvolver a arquitetura, a programação, as regras de funcionamento e as formas de gestão do espaço.

Vilela foi o vencedor do 1º Prêmio seLecT de Arte e Educação na categoria Formador, com o Espaço Cultural Área Criativa, espaço autogerido por jovens e crianças da cidade de Pedra Azul (MG), com atividades e regras de funcionamento pensadas pelos próprios usuários. Após três anos de sua implantação em uma cidade que não dispunha de equipamentos culturais, a Área Criativa continua ativa.
Com ações voltadas a promover discussões sobre arte e direitos humanos, o gestor e produtor cultural Bruno Vilela foi estimulado a retomar a estratégia da Área Criativa em Pinhões, bairro quilombola do município de Santa Luzia (MG). “Programamos realizar dez intervenções do projeto Mídia Tática em diferentes cidades, com grupos de jovens organizados em torno de direitos humanos. Mas os moradores de Pinhões não quiseram só uma intervenção efêmera, e sim criar uma ‘área criativa’, em caráter permanente”, conta Vilela à seLecT.
Como a verba que tinha para uma intervenção não alcançava construir um espaço cultural nos moldes de Pedra Azul, foi criado o Espaço Teto Aberto – literalmente um teto para abarcar encontros e discussões para a afirmação do jovem quilombola. “O Teto é um lugar para a discussão de políticas – do próprio espaço e do município. Se a gente pode criar regras para um espaço, por que não podemos interferir nas regras que o Estado dedica à população?”, diz Vilela.

Da diversidade às adversidades

Da diversidade às adversidades

Membros do júri falam sobre particularidades das inscrições e chegam a 60 pré-selecionados
Confira a lista!

Paula Alzugaray e Giselle Beiguelman

Entre os mais de 500 inscritos na primeira edição do Prêmio seLecT de Arte e Educação tivemos boas surpresas e a confirmação de tristes realidades.

Entre as boas surpresas destaca-se o arco de abrangência das inscrições tanto do ponto de vista territorial, de Norte a Sul do Brasil, como temático.

Na categoria Artista, o Prêmio atingiu 44 cidades de 21 estados brasileiros. Na categoria Formador, constata-se uma diversidade ainda maior: 104 cidades de 18 estados. Escapando à previsibilidade das capitais e dos grandes centros urbanos, a edição inaugural contou com uma significativa presença de projetos de artistas vindos de cidades como Tangará da Serra (MT); Ipatinga (MG); São Gonçalo (RJ), Vassouras (RJ); Marechal Rondon (PR); Orleans (SC), Criciúma (SC), Itajaí (SC); Cabedelos (PB); Petrolina (PE), Lagoa dos Gatos (PE), Itambé (PE) e Aparecida de Goiania (DF), além de vários projetos do interior do Paraná e Manaus (AM).

Do ponto de vista temático, nota-se uma emergente e bem-vinda presença de projetos desenvolvidos, nos últimos dois anos, a partir da demanda e da necessidade do debate das questões das relações raciais e de gênero, a fim de dar legitimidade às Leis 10.639/03 e 11.645/08, que tornaram obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena no país.

É notável, também, o crescimento de ações e projetos criados em comunidades e nas periferias, fora dos circuitos tradicionais de arte e das instituições educacionais, que trazem abordagens artísticas inovadoras e outras potências para o campo da educação.

A presença de projetos pedagógicos integradores, relacionando a cidade, o meio ambiente, o patrimônio histórico e cultural e projetos voltados para a integração de minorias e deficientes também foram recorrentes.

Percebe-se, ainda, que o audiovisual e as artes do corpo estão hoje incorporadas às metodologias pedagógicas e difundidas entre escolas municipais e estaduais brasileiras.

A multiplicidade institucional das inscrições é outro ponto a destacar. Na categoria Formador, recebemos projetos provenientes de pequenas escolas municipais do interior do Brasil, de núcleos de pesquisa de importantes universidades do país, como a USP e UFF, e chegando até instituições de arte brasileiras internacionalmente reconhecidas, como o Instituto Inhotim e a Fundação Bienal de São Paulo.

Nas duas categorias, apareceram projetos de diversas escalas, voltadas para a mobilização de comunidades inteiras ou de uma sala de aula. Na sua diversidade, mostrando “muita vontade de conexão”, como aponta o educador Paulo Portella, integrante do júri de seleção.

Chamou a atenção, também, que há uma tendência à formação de redes e de equipes multidisciplinares para projetos colaborativos e de co-autoria, na interseção entre diferentes áreas do saber, fomentando múltiplos pontos de vista.

Entre as citações mais constantes, sobre o trabalho em arte e educação, a abordagem triangular (fazer, ler e contextualizar) de Ana Mae Barbosa e textos do filósofo francês Jacques Rancière são as referências centrais.

Triste realidade

Em muitos casos, o escopo dos projetos evidencia que a arte ainda é vista como forma de diversão ou desenvolvimento de auto-estima.

Salta à vista a coragem e a quantidade de iniciativas pessoais em ambientes de descaso. Elas evidenciam a dimensão de desvalorização da disciplina de artes pelo Estado e a carência de políticas públicas nas áreas de arte e educação.

 

Confira a lista dos proponentes pré-selecionados:

O ARTISTA FORMADOR: ANTONIA PEREZ Antonia Perez e seu trabalho White Fence (Foto: Nancy Bareis)

O ARTISTA FORMADOR: ANTONIA PEREZ

Dando sequência à série de depoimentos publicada na 33ª edição da revista seLecT, a artista americana conta como transmite seu amor e apreço pela arte às novas gerações

Como artista visual, estou ativa em dois mundo que, cada vez mais, se sobrepõe, tanto na realidade, como conceitualmente – o universo do artista como pensador, feitor, apresentador e o universo do artista como professor, facilitador, engajador social. Agora, quando considero minha prática, ela não está limitada a minha vida no ateliê, mas também inclui as maneiras pelas quais eu levo a vida do ateliê para o lado de fora e compartilho com os outros, não apenas com exposições, mas também com a audiência ativa de salas de aula, performances/demonstrações contínuas, trabalhos públicos de arte e workshops. Eu vejo a atividade artística de forma holística e eu penso a arte em si como uma parte integral da vida, sem a qual nós humanos teríamos uma existência estática. Eu vejo o papel do artista como o de alguém cujas responsabilidades incluem usar meios criativos para provocar perguntas e divagações, além de ativar o público, expandindo suas mentes. Eu vejo o artista, seu processo e sua produção como algo que deve estar disponível a todos, não apenas a uma pequena parcela da sociedade que podem arcar com o acesso.

Pela história, artistas foram professores, treinando pessoas mais jovens em suas escolas, filosofias, métodos e técnicas. Esse processo era uma parte integral das suas habilidades para sobreviver financeiramente como artista. O sistema produziu assistentes para criar grandes trabalhos sob o nome de algum nome e muitos deles tornaram-se reconhecidos artistas com méritos próprios. Uma forma desse sistema ainda existe na sociedade contemporânea. Estudantes de arte em programas de mestrado, ou trabalhando em ateliês sob a tutela de artistas consagrados, recebem esse tipo de treinamento e apenas poucos protegidos aprendizes conseguem abrir caminho nesse sistema. No entanto, ele exclui a vasta maioria do público geral de se engajar com a arte.

Desde jovem, cada indivíduo deve ter experiências ativas com arte – vê-la, pensar sobre ela, criá-la e desenvolvê-la. Para fazer isso, ele deve também ter um significativo contato com artistas que também são professores. Esse engajamento com a arte deveria continuar pela vida da pessoa até seus últimos dias. Trata-se de um engajamento íntimo que abre a cabeça de um visitante/participante a pensar crítica e analiticamente; ele libera para processos criativos que convidam à experimentação e exploração e leva a pessoa a entender a trajetória do cânone da arte, suas limitações e preconceitos. Ele convida o visitante/participante a um nível de entendimento da arte que é profundamente mais complexo do que uma simples contemplação do que é bonito ou tecnicamente adepto.

Esse tipo de relação e participação nas artes é para indivíduos que pensam crítica e analiticamente sobre o mundo ao seu redor, entendem que tem escolhas e uma voz, olham além da superfície para significados mais profundos das coisas, estão dispostos a trabalhar para soluções que ultrapassam as simples e óbvias, sentem-se confortáveis ao ouvir ideias dos outros e são verdadeiros apoiadores das artes como uma parte necessária da vida de todos. Engajamento ativo com a arte é para aqueles que não apenas apreciam-na como audiência passiva, mas pessoas que são reais participantes do universo ao redor. Artistas, que compartilham seus processos criativos e facilitam esse tipo de engajamento com crianças, jovens e adultos de todas as idades, são chamados de artistas formadores.

 

*Antonia Perez é artista visual, trabalha com escultura, pintura e trabalhos site-specific a partir da reutilização de materiais coletados ao longo do tempo – antoniaaperezstudio.com

Estrutura tecnológica de pensamento Fenster (Ventana/Window, 2001-2002/2010), de Luis Camnitzer (Foto: Cortesia Alexander Gray Associates, Nova York)

Estrutura tecnológica de pensamento

Curso de pós-graduação da FAAP propõe novos modelos para pensar o ensino

Por Luana Fortes

Como pensar processos de formação em um universo digital? De acordo com a professora e doutora Suzana Torres, não se trata apenas de usar a tecnologia como ferramenta na sala de aula, mas sim de pensar em uma estrutura tecnológica de pensamento. É a partir desse desafio que ela montou, e agora coordena, Docência e Educação na Contemporaneidade, apenas um dos vários novos cursos de pós-graduação que a FAAP passa a oferecer em 2017.

Torres acredita que a formação da grande maioria dos professores não é suficiente para fazer da sala de aula um espaço efetivo de aproximação, troca e construção. Por esse motivo, um curso de especialização mostra-se necessário. Causa estranhamento à professora que algumas práticas de ensino usadas hoje foram construídas quando a sociedade ainda era de tradição e cultura oral. Já se foram os tempos de ba be bi bo bu. Hoje, a cultura é digital. “Pensar o cenário atual é pensar em redes, conexões e imagens. É tirar o foco no ensino e colocá-lo na aprendizagem”, diz a professora à seLecT. Docência e Educação na Contemporaneidade, então, oferece um espaço para a proposição de outros desenhos, pois o atual é resultado de opções históricas que podem ser repensadas. “Às vezes, o professor nem quer ensinar de determinada forma, mas ele ainda não sabe fazer de outra”, pondera.

O curso é encabeçado pela Faculdade de Artes Plásticas da instituição, mas, pensando a educação como multidisciplinar e algo de comprometimento coletivo, não se destina exclusivamente para professores de áreas culturais. Ele traz à tona as possíveis contribuições que a arte pode trazer para a educação diante de uma solicitação de nível bem ampla, destinada a profissionais de diferentes graus de ensino, assim como aqueles que pretendem estar envolvidos com a educação apenas no futuro. Inclusive, esse é o ponto de partida do programa, que se inicia pensando a respeito daquilo que move e orienta os próprios estudantes do curso.

A oportunidade de montar essa pós-graduação também serve como pontapé para novas ações ao redor do mesmo assunto. É o caso da palestra Como se Ensina a Estudar: Uma Tarefa de Toda a Comunidade Escolar, ministrada por uma das professoras que compõe o corpo docente do curso, Walkiria de Oliveira, em 6/3, às 21h30.

O artista formador: Carmela Gross A artista Carmela Gross ao lado da instalação Escada-Escola (Foto: Paulo D'Alessandro)

O artista formador: Carmela Gross

Em série de depoimentos, grandes nomes da cena brasileira contam como transmitem seu amor e apreço pela arte às novas gerações

Por Luciana Pareja Norbiato, Felipe Stoffa e Carmela Gross

 

Ensinar é um processo múltiplo. Nenhum método de ensino dá conta sozinho de fixar as bases de atuação de seus agentes. Mesmo nas ciências exatas, a maneira como o professor lida com sua disciplina influencia diretamente os resultados e o interesse dos alunos. No ensino de artes visuais, essa fluidez epistemológica é potencializada. O ato do ensino e da aprendizagem pode começar em instituições formais, como escolas e faculdades, e ultrapassar a sala de aula para acontecer em conversas, projetos e até na rua. A produção de certos artistas não seria a mesma sem o ato generoso de compartilhar conhecimento e experiência com as novas gerações. Saiba o que Carmela Gross; artista e autora da instalação Escada-Escola, que liga a Chácara Lane (Museu da Cidade) à Escola Municipal Gabriel Prestes, SP; pensa sobre a dimensão formativa da arte:

“Borrar os limites entre o que chamamos arte e aquilo que consideramos ensino”
Minha primeira proposição para o projeto desta exposição foi imaginar uma integração ativa e formal entre o espaço da Chácara Lane e a Escola Municipal Gabriel Prestes, em São Paulo: apagar os limites físicos entre uma e outra, retirar o muro/grade que as separa, integrar atividades e fazer com que a escola e a casa-museu pudessem se coordenar em uma nova unidade espacial e programática. Além de unificar os espaços, minha proposta pretendia borrar os limites entre o que chamamos arte e aquilo que consideramos ensino. Poder recompor a atividade artística como ação lúcida e lúdica, pensar a educação como atividade livre e criadora. Mas essa enorme tarefa não cabia no âmbito da exposição. Então, imaginei um dispositivo simbólico que pudesse significar o salto desejado – uma escada dupla que fizesse a transposição sobre a grade, tornando possível passar da escola para o museu e do museu para a escola. Projetei uma escada metálica de dois lances, com 1,5 metro de altura, 0,60 metro de largura e 4,60 metros de comprimento, com nove degraus de cada lado, articulada por uma pequena plataforma central. Todo o conjunto é pintado de vermelho. O desenho em linhas metálicas vermelhas talvez assinale um caminho.

Incerta reforma Camisa Educação#69 de Beto Shwafaty para galeria A Gentil Carioca (Foto: Pedro Agilson)

Incerta reforma

Mudanças no Ensino Médio geram insegurança a respeito da arte como disciplina obrigatória

 

Por Luana Fortes

 

Em 2016, estudantes da rede pública de ensino ocuparam mais de mil escolas ao redor de todo o País em protesto a certas medidas relacionadas a ensino. Uma delas, a Medida Provisória 746, que traz mudanças no segundo grau, acaba de ter seu texto aprovado pelo plenário do Senado Federal, seguindo para a sanção do presidente Michel Temer, a qual deve ocorrer nos próximos dias.

A carga horária do Ensino Médio passará a caminhar em direção à meta de ampliação para ao menos mil horas anuais em cinco anos e professores de notório saber, aqueles sem formação específica na área de atuação, poderão lecionar, mas apenas em ensino técnico e profissional.

Fora isso, a flexibilidade do currículo é uma das maiores mudanças propostas pela medida. Ela indica que 60% da grade será composta por disciplinas obrigatórias instituídas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e 40% serão destinadas para os itinerários formativos, que se tratam de cinco áreas de estudo para aprofundamento. As escolas devem oferecer ao menos uma, sendo elas linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas e formação técnica e profissional.

No entanto, algo que ainda parece instável é a situação das disciplinas de arte, educação física, sociologia e filosofia na BNCC, que deverá ser definida até o fim do ano. Por ora, as únicas matérias obrigatórias são matemática, português e inglês. Vale apenas dizer que o texto original da MP 746 não incluía a obrigatoriedade dessas disciplinas, mas uma emenda constitucional restabeleceu a norma quando o documento passou pela Câmara. O que se pode esperar para 2018, ou até 2019, é ainda um pouco incerto.

 

O artista formador: Danillo Barata Danillo Barata, videoartista e professor dos cursos de Cinema e Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB (Foto: Sora Maia)

O artista formador: Danillo Barata

Em série de depoimentos, grandes nomes da cena brasileira contam como transmitem seu amor e apreço pela arte às novas gerações

Por Luciana Pareja Norbiato, Felipe Stoffa e Danillo Barata

Ensinar é um processo múltiplo. Nenhum método de ensino dá conta sozinho de fixar as bases de atuação de seus agentes. Mesmo nas ciências exatas, a maneira como o professor lida com sua disciplina influencia diretamente os resultados e o interesse dos alunos. No ensino de artes visuais, essa fluidez epistemológica é potencializada. O ato do ensino e da aprendizagem pode começar em instituições formais, como escolas e faculdades, e ultrapassar a sala de aula para acontecer em conversas, projetos e até na rua. A produção de certos artistas não seria a mesma sem o ato generoso de compartilhar conhecimento e experiência com as novas gerações. Saiba o que Danillo Barata, videoartista e professor dos cursos de Cinema e Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), pensa sobre a dimensão formativa da arte:

“Tenho sido, muito mais ao modo de Mário de Andrade, um aprendiz”
Minha experiência de ensino no Recôncavo da Bahia tem me transformado profundamente, pois aqui a troca de saberes e a horizontalidade na prática de formação são vividas cotidianamente no ambiente escolar e fora dele. Um espaço de dialogias, transformações e do mistério.

Os trabalhos artísticos que tenho desenvolvido têm se constituído pela poética do corpo, utilizando como linguagens o vídeo e as videoinstalações. Motivado por essa tendência, busco a ampliação desse conceito e dos meios artísticos de expressão na realização de uma produção na linha de processos criativos.

Em uma avaliação de conceitos ligados às principais teorias e práticas das artes visuais, minha pesquisa constituiu-se de uma produção prática, na qual são utilizadas técnicas de captação e manipulação de imagens, para mostrar o enfrentamento do corpo em relação aos meios contemporâneos de expressão artística.

A relação dialógica estabelecida com o Recôncavo talvez encontre ressonância na frase da canção do santamarense Roberto Mendes e de Capinam na canção Massemba: “Vou aprender a ler para ensinar meus camaradas”. Acredito que, no fim das contas, tenho sido, muito mais ao modo de Mário de Andrade, um aprendiz.

O artista formador: Stela Barbieri Stela Barbieri, artista, ex-coordenadora dos Educativos da Bienal e do Instituto Tomie Ohtake e diretora do Binah Espaço de Arte (Foto: Paulo D'Alessandro)

O artista formador: Stela Barbieri

Em série de depoimentos, grandes nomes da cena brasileira contam como transmitem seu amor e apreço pela arte às novas gerações

Por Luciana Pareja Norbiato, Felipe Stoffa e Stela Barbieri

Ensinar é um processo múltiplo. Nenhum método de ensino dá conta sozinho de fixar as bases de atuação de seus agentes. Mesmo nas ciências exatas, a maneira como o professor lida com sua disciplina influencia diretamente os resultados e o interesse dos alunos. No ensino de artes visuais, essa fluidez epistemológica é potencializada. O ato do ensino e da aprendizagem pode começar em instituições formais, como escolas e faculdades, e ultrapassar a sala de aula para acontecer em conversas, projetos e até na rua. A produção de certos artistas não seria a mesma sem o ato generoso de compartilhar conhecimento e experiência com as novas gerações. Saiba o que Stela Barbieri, artista, ex-coordenadora dos Educativos da Bienal e do Instituto Tomie Ohtake e diretora do Binah Espaço de Arte, pensa sobre a dimensão formativa da arte:

“Obras-oficinas que conectam arte e educação”
Tenho trabalhado com espaços ativos que conectam arte e educação. São obras-oficinas que convidam o público a coabitar o trabalho em um ambiente de investigação. Os Lugares propiciam relações e negociações e são potencializadores do movimento do corpo e do pensamento das pessoas. Neles, os participantes se colocam em jogo, na possibilidade de vivenciar temporalidades diversas.

Um de meus trabalhos recentes é o Banho de Canto. Trata-se de uma instalação de ferro oval com instrumentos pendurados e uma cadeira de balanço no centro. Os participantes ativam a obra tocando e cantando a partir da relação com a pessoa que está sentada na cadeira. Durante uma sessão, todos passam pelo centro e recebem o Banho de Canto. Sempre convido pessoas para participar anunciando na internet. Geralmente, aparece gente – conhecida e desconhecida – e um acontecimento diferente se dá cada vez que a obra é ativada. Há dias em que as pessoas entram numa sintonia e há mais energia; em outros acontece uma sonoridade caótica, desencontrada. É algo imponderável, que ainda estou investigando.

O artista formador: Paulo Pasta Paulo Pasta, artista e professor no Sesc Pompeia e Instituto Tomie Ohtake (Foto: Paulo D'Alessandro)

O artista formador: Paulo Pasta

Em série de depoimentos, grandes nomes da cena brasileira contam como transmitem seu amor e apreço pela arte às novas gerações

 Por Luciana Pareja Norbiato, Felipe Stoffa e Paulo Pasta

 

Ensinar é um processo múltiplo. Nenhum método de ensino dá conta sozinho de fixar as bases de atuação de seus agentes. Mesmo nas ciências exatas, a maneira como o professor lida com sua disciplina influencia diretamente os resultados e o interesse dos alunos. No ensino de artes visuais, essa fluidez epistemológica é potencializada. O ato do ensino e da aprendizagem pode começar em instituições formais, como escolas e faculdades, e ultrapassar a sala de aula para acontecer em conversas, projetos e até na rua. A produção de certos artistas não seria a mesma sem o ato generoso de compartilhar conhecimento e experiência com as novas gerações. Saiba o que Paulo Pasta, artista e professor no Sesc Pompeia e Instituto Tomie Ohtake, pensa sobre a dimensão formativa da arte:

“O que tenho a ensinar é, principalmente, a valorização da experiência”
Quando comecei a dar aulas de arte, não possuía um método, um programa a partir do qual pudesse me orientar. Fui aprendendo com a prática. Aprendi o que ensinava, se posso dizer assim. E isso me parece, agora, a melhor forma de aprendizado. E esse sistema talvez seja a parte essencial do exercício da própria pintura: aprender com a experiência, com a prática do fazer.

Posso dizer, então, que o que tenho a ensinar é, principalmente, essa valorização da experiência. Nesse sentido me coloco (e me sinto) muito mais um interlocutor do que professor. Procuro entender as reais motivações e origens dos trabalhos e responder a elas, sem generalizações ou ideologias.

Gosto também de pensar – a exemplo da declaração de Sean Scully – que procuro manter e preservar um espaço para o exercício continuado da pintura, quando tudo parece cooperar para que isso não ocorra.

O artista formador: Sandra Cinto e Albano Afonso Workshop de Sandra Cinto (Foto: Ding Musa)

O artista formador: Sandra Cinto e Albano Afonso

Em série de depoimentos, grandes nomes da cena brasileira contam como transmitem seu amor e apreço pela arte às novas gerações

Por Luciana Pareja Norbiato, Felipe Stoffa, Sandra Cinto e Albano Afonso

 

Ensinar é um processo múltiplo. Nenhum método de ensino dá conta sozinho de fixar as bases de atuação de seus agentes. Mesmo nas ciências exatas, a maneira como o professor lida com sua disciplina influencia diretamente os resultados e o interesse dos alunos. No ensino de artes visuais, essa fluidez epistemológica é potencializada. O ato do ensino e da aprendizagem pode começar em instituições formais, como escolas e faculdades, e ultrapassar a sala de aula para acontecer em conversas, projetos e até na rua. A produção de certos artistas não seria a mesma sem o ato generoso de compartilhar conhecimento e experiência com as novas gerações. Saiba o que Sandra Cinto e Albano Afonso, artistas e organizadores do Ateliê Fidalga (SP), pensam sobre a dimensão formativa da arte:

“A educação se dá em qualquer espaço de convívio social”
Há algum tempo estamos tentando mudar a ideia do Ateliê Fidalga, enquanto um lugar parecido com uma escola ou local onde se oferece algum tipo de curso ou orientação. Faz tempo que não temos mais “alunos”. Refletimos muito sobre as práticas de educação em arte e o nosso trabalho foi ganhando outra dimensão. Partindo da ideia de que a educação se dá em qualquer espaço de convívio social, Albano e eu percebemos que o nosso trabalho no Ateliê Fidalga acontece muito mais como mediadores das discussões e propositores dos encontros entre os artistas, para que sejam feitas trocas.

O conhecimento é compartilhado de uma maneira horizontal, entre todos. Todas as áreas do conhecimento são bem-vindas e todos os artistas têm algo para dividir, aprender e trocar com o outro em termos de experiências. Também estamos bastante focados no Projeto Fidalga, um desdobramento do Ateliê Fidalga, localizado no nosso antigo ateliê. Nesse local funcionam cinco ateliês de artistas, um ateliê que é uma bolsa de incentivo para artistas sem espaço próprio (Bolsa Estúdio Fidalga), um programa sem fins lucrativos de residência (Residência Paulo Reis) e uma sala para exposições experimentais realizadas pelos artistas e curadores residentes, e artistas jovens ou em meio de trajetória que tenham um projeto para desenvolver e necessitam de espaço (Sala Projeto Fidalga). Nesse caso, a educação como ação transformadora e geradora de conhecimento acontece pela prática e pelas trocas no local: conversas organizadas durante a exposição, intercâmbios com universidades (Musashino e Aomori Art Center, no Japão, e Instituto de Geociências da USP, entre outros) e incentivo a publicações para multiplicar o conhecimento (desde o ano passado, as nossas publicações, além de impressas, são também virtuais, para que as pessoas possam baixá-las e terem acesso à pesquisa) e nos desdobramentos dessa experiência, a ressonância. Um exemplo é Renata Cruz, artista do grupo de estudos que está neste momento no Japão. Ela participa do nosso programa de intercâmbio com o Aomori Art Centre. A ideia de compartilhar o conhecimento vai se expandindo como uma hera.