Dando sequência à série de depoimentos publicada na 33ª edição da revista seLecT, a artista americana conta como transmite seu amor e apreço pela arte às novas gerações
Como artista visual, estou ativa em dois mundo que, cada vez mais, se sobrepõe, tanto na realidade, como conceitualmente – o universo do artista como pensador, feitor, apresentador e o universo do artista como professor, facilitador, engajador social. Agora, quando considero minha prática, ela não está limitada a minha vida no ateliê, mas também inclui as maneiras pelas quais eu levo a vida do ateliê para o lado de fora e compartilho com os outros, não apenas com exposições, mas também com a audiência ativa de salas de aula, performances/demonstrações contínuas, trabalhos públicos de arte e workshops. Eu vejo a atividade artística de forma holística e eu penso a arte em si como uma parte integral da vida, sem a qual nós humanos teríamos uma existência estática. Eu vejo o papel do artista como o de alguém cujas responsabilidades incluem usar meios criativos para provocar perguntas e divagações, além de ativar o público, expandindo suas mentes. Eu vejo o artista, seu processo e sua produção como algo que deve estar disponível a todos, não apenas a uma pequena parcela da sociedade que podem arcar com o acesso.
Pela história, artistas foram professores, treinando pessoas mais jovens em suas escolas, filosofias, métodos e técnicas. Esse processo era uma parte integral das suas habilidades para sobreviver financeiramente como artista. O sistema produziu assistentes para criar grandes trabalhos sob o nome de algum nome e muitos deles tornaram-se reconhecidos artistas com méritos próprios. Uma forma desse sistema ainda existe na sociedade contemporânea. Estudantes de arte em programas de mestrado, ou trabalhando em ateliês sob a tutela de artistas consagrados, recebem esse tipo de treinamento e apenas poucos protegidos aprendizes conseguem abrir caminho nesse sistema. No entanto, ele exclui a vasta maioria do público geral de se engajar com a arte.
Desde jovem, cada indivíduo deve ter experiências ativas com arte – vê-la, pensar sobre ela, criá-la e desenvolvê-la. Para fazer isso, ele deve também ter um significativo contato com artistas que também são professores. Esse engajamento com a arte deveria continuar pela vida da pessoa até seus últimos dias. Trata-se de um engajamento íntimo que abre a cabeça de um visitante/participante a pensar crítica e analiticamente; ele libera para processos criativos que convidam à experimentação e exploração e leva a pessoa a entender a trajetória do cânone da arte, suas limitações e preconceitos. Ele convida o visitante/participante a um nível de entendimento da arte que é profundamente mais complexo do que uma simples contemplação do que é bonito ou tecnicamente adepto.
Esse tipo de relação e participação nas artes é para indivíduos que pensam crítica e analiticamente sobre o mundo ao seu redor, entendem que tem escolhas e uma voz, olham além da superfície para significados mais profundos das coisas, estão dispostos a trabalhar para soluções que ultrapassam as simples e óbvias, sentem-se confortáveis ao ouvir ideias dos outros e são verdadeiros apoiadores das artes como uma parte necessária da vida de todos. Engajamento ativo com a arte é para aqueles que não apenas apreciam-na como audiência passiva, mas pessoas que são reais participantes do universo ao redor. Artistas, que compartilham seus processos criativos e facilitam esse tipo de engajamento com crianças, jovens e adultos de todas as idades, são chamados de artistas formadores.
*Antonia Perez é artista visual, trabalha com escultura, pintura e trabalhos site-specific a partir da reutilização de materiais coletados ao longo do tempo – antoniaaperezstudio.com